Tales
de Mileto (624 - 545 a.C.)
De
seus pensamentos originais conhecemos quase nada, o que sabemos dele é através
de outros filósofos. Aristóteles o chamou de fundador da filosofia. Tales
pensava que diversos deuses estavam nas coisas do mundo, dessa forma a natureza
passa também a ser considerada como algo divino. O espírito do mundo é Deus e
as coisas têm alma que penetra nelas através da umidade. É também através da
umidade que o poder de Deus entra nas coisas e as movimenta. O primeiro
pensador de Mileto observou que o calor precisa de água, que a pessoa quando
morre fica seca, que as coisas vivas na natureza são úmidas, que os germens são
úmidos, que os alimentos tem seiva e concluiu que a água era o princípio e a
origem de todas as coisas. Ele dizia que as terras são sustentadas pela água e
se deslocam como um barco. Quando dizemos que ela treme, como nos terremotos,
na verdade ela está balançando devido ao movimento da água. Ele observou que a
água muda constantemente e dizia que para que ela pudesse suportar todas as
transformações e continuar inalterada ela deveria ser um elemento eterno. Para
ele todas as coisas estão cheias de deuses. Ele chega a essa afirmação por
perceber que as coisas no mundo estão em constante movimento. Se as coisas se
movem é porque estão vivas. E se estão vivas é porque Deus está nelas. Não
podemos esquecer que quando Tales diz que todas as coisas têm deuses e alma,
ele não estava se referindo ao sentido religioso que damos hoje às palavras
Deus e Alma. Mesmo que muitas das suas conclusões nos pareçam estranhas hoje,
dizemos que a Filosofia iniciou com Tales porque com ele acontece a primeira
separação entre o pensamento racional e o que as pessoas percebem através dos
cinco sentidos. Ele utiliza a razão para buscar explicações para as coisas do
mundo. Tales previu um eclipse que ocorreu em 28 de maio de 585 a.C. O seu
interesse pela astronomia o levou a descobrir a mudança do sol de um trópico ao
outro. Tales descobriu também que algumas estrelas não eram fixas em relação às
outras como pareciam e as chamou de planetas. Ele fixou ainda em trinta o
número de dias durante o mês e constatou que o ano era composto de 365 dias e
um quarto. Estudou ainda a eletricidade estática. Atribui-se a Tales também uma
teoria para explicar as constantes inundações do rio Nilo e a solução de
diversos problemas geométricos. Ele viajou por diversas regiões e no Egito
teria calculado a altura de uma pirâmide. O cálculo foi feito a partir da sua
própria altura e o comprimento de sua sombra e através desta proporção calculou
a altura da pirâmide através da sombra desta, pois a proporção é a mesma. Esse
cálculo de proporções é conhecido até hoje na geometria como Teorema de Tales.
Se alguém perguntasse a Tales se antes vinha a noite ou o dia ele respondia que
antes de tudo vinha a noite, depois de um dia. Dizia que a coisa mais simples é
dar conselhos a outras pessoas; que a coisa mais agradável é ter sucesso e que
a mais desagradável é um tirano poder envelhecer; que o divino é o que não tem
nem início nem fim; que Deus vê os injustos mesmo quando eles ainda estão
pensando em fazer a injustiça; que o falso juramento não é pior que o
adultério; que se suporta mais facilmente a má sorte se percebermos que o
inimigo está pior que nós; que se vive virtuosamente não fazendo ao outro o que
não queremos para nós; que é feliz quem é saudável do corpo, rico de alma e bem
educado. Dizia ainda que precisamos recordar dos amigos presentes e ausentes;
cuidar do nosso comportamento mais que da nossa aparência; não enriquecer de
modo injusto e não cair em descrédito com aqueles com quem fizermos um trato.
Tales sustentava que a morte não é diferente da vida. E se alguém lhe
perguntava por que, então, ele não morria ele dizia que era porque não tinha
diferença entre vida e morte. Platão no livro Teeteto conta uma anedota que dá
testemunho dos interesses de Tales pela astronomia e esboça o que popularmente
se pensa dos filósofos. Escreve Platão? Ele observava os astros e tendo o olhar
dirigido ao céu, cai em um poço. Conta-se que uma espirituosa e inteligente
serva o havia visto dizendo que se preocupava mais em conhecer o que acontece
no céu sem preocupar-se com o que acontecia na frente dos seus pés. A mesma
ironia é reservada a quem passa o tempo filosofando. Tales foi contemporâneo de
Anaximandro e professor de Anaxímenes os outros dois primeiros filósofos da
história da cultura ocidental.
Anaximandro
de Mileto (610 - 547 a.C.)
Quase
nada conhecemos da sua vida mas sabemos que foi discípulo, seguidor e sucessor
de Tales de Mileto. Anaximandro pensava que nosso mundo é somente um entre
diversos outros mundos que irão se desenvolver, evoluir e se desintegrar em um
processo infinito. Nosso cosmos, um entre os infinitos que existiram e os
infinitos que virão, iniciou-se com os contrários principais que são o frio e o
calor. Uma ideia muito parecida de como alguns físicos modernos concebem a
teoria do Big-Bang. Anaximandro estudou e escreveu sobre geografia, astronomia,
matemática e política, mas um dos seus principais escritos intitulado Sobre a
Natureza não chegou até nós. Existem somente relatos dele. Esta obra é o
primeiro escrito filosófico do ocidente. Anaximandro é considerado o fundador
da astronomia na Grécia, pois mediu a distância entre as estrelas e o tamanho
das mesmas. Ao que parece ele iniciou o uso do relógio solar na Grécia e
desenhou um mapa do mundo conhecido na época. Para ele a água não era o
princípio de todas as coisas como defendia Tales, assim como nenhum dos quatro
elementos fundamentais: terra, fogo, ar e água. Mas tudo começava com o que ele
chama de Ápeiron, que é o infinito
na qualidade e na quantidade. O Ápeiron
não surgiu de nada mas existe e não tem fim. E justamente por ser infinito em
extensão e profundidade pode gerar todas as coisas. Muitos identificam esse
infinito com o divino pois é imortal e não pode ser destruído. Aqui a
imortalidade não é somente algo que não tem fim mas também algo que não tem começo.
Neste ponto Anaximandro destrói as bases das crenças nos deuses gregos. Estes
não tinham fim, mas tinham começo, eles nascem em um determinado tempo. Anaximandro
no entanto não acreditava em nenhum Deus. Para ele as sequências de se criar
desenvolver e destruir eram fenômenos naturais que aconteciam quando a matéria
abandonava e se separava do Ápeiron. O Ápeiron era a realidade inicial e final
de todas as coisas e por consequência continha em si toda a natureza divina.
Mas ele vai além, ele se questiona também de como e porque as coisas se formam
do Ápeiron. Para ele es coisas se constituem através de uma eterna luta entre
contrários, onde algo não pode existir enquanto existe também o seu contrário.
O mediador desta eterna luta é o tempo, que permite que ora exista um e ora
exista o seu contrário. Esses contrários podem ser observados na natureza:
calor, frio; úmido, seco; claro, escuro, etc. E é o tempo que vai colocar
limites para a existência destes contrários. Anaximandro acreditava que a terra
tinha a forma cilíndrica e era circundada por diversas rodas cósmicas que eram
imensas e de fogo. A terra ficava suspensa sem que nada a sustentasse o que a
conservava desta forma era a igual distância entre todas as partes. Existe um
equilíbrio entre as diversas forças que atuam sobre a terra. Para ele o sol é
que fez que do líquido do lodo marinho nascessem os primeiros seres vivos.
Esses seres marinhos aos poucos foram se desenvolvendo em seres mais complexos.
O homem teria se formado inicialmente dentro de alguns peixes. Ali ele se
desenvolveu e foi expulso quando cresceu de tamanho o suficiente para manter-se
a si mesmo.
Pitágoras
de Samos (570 - 496 a.C.)
Pitágoras
era de Samos, uma ilha do mar Egeu na costa da Ásia Menor, na época pertencente
à Grécia. Pitágoras mudou-se para Crotona, na atual Itália e ali fundou uma
escola filosófica que muito se assemelhava a um culto religioso ou seita
fechada somente para iniciados. A biografia deste filósofo é envolta por lendas
e relatos de outros escritores, pois tudo o que dele sabemos deve-se ao que foi
transmitido oralmente não tendo deixado nada escrito. Pouco se sabe de
Pitágoras e sua escola e isso se deve também ao fato de que ela tinha muitas
regras sigilosas que protegiam os seus segredos. Os iniciados na Escola
Pitagórica cumpriam regras de silêncio. O filósofo e matemático Pitágoras, além
de fundador e líder, era visto como profeta. A escola praticava rituais de
purificação através do estudo de Geometria, Aritmética, Música e Astronomia.
Acreditavam na metempsicose, ou seja, a transmigração da alma de um corpo para
o outro após a morte. Acreditavam, portanto na reencarnação e na imortalidade
da alma. Havia regras de lealdade entre os membros da escola e os bens materiais
eram distribuídos comunitariamente. Eles viviam de modo austero e obedientes às
regras da escola. Eram proibidos de comer carne e beber vinho. A Escola
Pitagórica santificava a vida. Eles também se interessavam por diversas
questões filosóficas e tinham profundo interesse intelectual sobre diversas
questões. Dentre essas questões destaca-se a matemática a aritmética a
geometria e a música. Eles criaram relação da matemática com assuntos abstratos
como a justiça, desenvolvendo assim um misticismo em torno dos números. Os
números constituíam a essência de todas as coisas. O mundo era governado pelas
mesmas estruturas matemáticas que governam os números pois eles simbolizavam a
harmonia. Essa harmonia ou ordem eles perceberam analisando os astros e a natureza.
Para eles o cosmos é organizado através de uma ordem matemática e a prova disso
são os movimentos perfeitos das estrelas, as mudanças de estações e a
alternância entre o dia e a noite. Assim como o dia e a noite, existem diversos
opostos no mundo, o que concilia a oposição entre eles é o princípio da
harmonia e o princípio da harmonia é regido pelos números. O mundo foi formado
no centro do universo, lá existe um fogo central a quem eles chamam de mãe dos
deuses e é neste fogo central que são formados todos os corpos celestes. Em
torno do fogo central movem-se, do oeste para o leste, dez corpos celestes.
Pitágoras foi quem criou a palavra "Filósofo" e
"Matemática". A harmonia matemática pode ser obtida também na música.
Pitágoras descobriu que se dividirmos uma corda em determinadas proporções
vamos obter vibrações proporcionais que vão formar a harmonia das notas
musicais. Se dividirmos essas notas em determinadas frações e a combinarmos com
as notas simples, vamos obter sons harmoniosos. Já frações diferentes produzem
sons não harmônicos. Como todos os corpos que se movem velozmente produzem som,
isso acontece também com os corpos celestes. O movimento dos astros produz o
som correspondente a uma oitava. Este som não é percebido pelas pessoas pois nós
o ouvimos desde que nascemos e nossos ouvidos não são próprios para
percebê-los. Em seus estudos eles concluíram também que a terra é redonda e que
gira em seu eixo. Outra grande descoberta geométrica dos pitagóricos é a
relação entre os lados do triângulo retângulo. É o que conhecemos hoje por
Teorema de Pitágoras: No triângulo retângulo, a soma dos quadrados dos catetos
é igual ao quadrado da hipotenusa. A metafísica de Pitágoras também tinha por
base a matemática. Como os números formam todas as coisas, inclusive a alma,
esta se libertaria através do intelecto. O intelecto da pessoa para libertar a
alma tem que descobrir a estrutura numérica das coisas pois nesta estrutura
está a harmonia. Os números não são os símbolos, mas o que eles representam. Para
ele o número 10 era místico pois continha em si os quatro elementos que tudo
formam, a terra o fogo a água e o ar. Cada um desses elementos é representado
por um número e a sua soma 1+2+3+4 forma o 10 que é a base do nosso sistema
numérico decimal. O número 1 simboliza a razão, 2 a opinião, 4 a justiça e 5 o
casamento. 1 significa também o ponto, 2 a linha, 3 a superfície e 4 o volume.
Outra descoberta dos pitagóricos são os números perfeitos que são os números
cuja soma de seus divisores, exceto ele mesmo, resulta no próprio número. Ex: o
6 é dividido por 1,2 e 3, e a soma dos três divisores é 6. O 28 é dividido por
1,2,4,7 e 14 e a soma dos divisores é 28. Eles descobriram também que certas
grandezas não podem ser representadas por um número inteiro nem por uma fração
de números inteiros. Essas grandezas eles denominaram inexprimível. Isso gerou
uma crise entre eles que fundamentavam tudo nos números e na matemática.
Fizeram juramento de nunca revelar esse segredo a ninguém mas a notícia
espalhou-se e os números irracionais foram revelados ao mundo. Pitágoras foi
expulso de Crotona e passou a morar em Metaponto onde morreu provavelmente em
496 a.C. Além de não deixar nenhum registro do seu trabalho, sua escola em
Crotona foi destruída por rivais políticos e a maioria dos membros foi morta.
Os sobreviventes dispersaram-se pela Grécia e continuaram a divulgar a
filosofia da religião dos números.
Heráclito
de Éfeso (540 - 470 a.C.)
Heráclito
era de Éfeso, na atual Turquia. Ele pertenceu à nobreza pois sua família era
descendente do fundador da cidade. Pode ser que por esse motivo ele desprezava
o povo simples e nunca interferiu na política. Desprezou também os antigos
poetas, os filósofos de sua época e a religião. Era contemporâneo de
Parmênides. É conhecido pelos seus escritos não muito claros, especialmente em
sua obra Acerca da Natureza onde aparecem diversas sentenças breves em forma de
prosa. Ele observa o constante devir das coisas, o mundo está em um perpétuo
fluxo. O mundo inicia com uma substância, essa substância explica o devir
constante através de si próprio. Para ele essa substância é o fogo, que não é
algo corpóreo, mas ativo, com inteligência e foi criado. Qualquer mudança que
ocorre no mundo se dá através do fogo. O que está mudando ou está indo ao fogo
ou está voltando. Esse fluxo eterno é um processo dialético. Para ele a
dialética é inicialmente o raciocinar de uma direção à outra. Ela é própria do
objeto a que se observa, mas está também no sujeito que observa. Heráclito
tenta com isso fundar e buscar a dialética como começo. Heráclito consegue com
o devir trazer um grande avanço para a filosofia. Com o devir a filosofia deixa
de ser estática e passa a contemplar também o movimento. O movimento para o
filósofo de Éfeso é o próprio princípio. Para Heráclito o Ser é o único. É nele
que tudo começa e após ele temos o devir. Desta forma ele é o primeiro filósofo
a utilizar a especulação para fazer filosofia. Para fazer especulações
filosóficas ele utiliza a pesquisa e através da pesquisa busca alcançar clareza
para os pressupostos da filosofia. A própria natureza da filosofia impõe que
ela seja feita através da pesquisa e a especulação é necessária porque essa
natureza gosta de se esconder. A natureza não entrega seus fundamentos de forma
fácil. Alcançar seus conhecimentos é uma busca difícil para os filósofos e
impossível para a maioria dos homens. Os filósofos vão além da esperteza
demonstrada por alguns indivíduos que aparentam saber muitas coisas mas não
alcançam a verdadeira inteligência. A verdadeira inteligência dos filósofos vai
se dedicar a estudar os diversos objetos mas buscando sempre colocá-los em uma
unidade. Além do mundo o homem deve examinar a si próprio. Na pesquisa o
filósofo pode encontrar diversas respostas diretas e claras a respeito do
mundo. Mas ao pesquisar a si próprio o homem vai encontrar uma profundidade
infinita de conhecimentos a serem descobertos. Quanto mais nos aprofundamos em
nós mesmos mais percebemos que somos mais profundos. Essa descoberta de nós
mesmos jamais termina. A razão última do que sou vai sempre estar fora do meu
alcance, quanto mais conhecimento tenho de mim mesmo mais percebo que tenho
outros conhecimentos a conhecer sobre mim mesmo. Esse processo cada vez mais
profundo e cada vez mais íntimo de conhecer a mim mesmo não tem fim. Outro rumo
que as pesquisas filosóficas devem tomar, além do mundo e de si mesmo, é também
sobre a nossa relação com os outros. Buscar a essência da nossa relação com os
outros é mais um dos objetivo da filosofia pois estamos ligados aos outros
através de uma comunidade natural. O filósofo deve buscar a razão, a essência
da natureza que nos liga a nós mesmos, ao mundo e aos outros. Esta razão da
natureza é a lei que tudo regula, regula o homem, regula a relação entre os
homens e regula a natureza externa. Esta lei é o ser do mundo e este ser é que
vai se revelar na pesquisa filosófica. Ter essa atitude filosófica é para
Heráclito uma opção constante que os homens tem que fazer. É semelhante à opção
de estar acordado ou dormindo, entre fechar-se em si em seu pensamento e
abrir-se à comunicação consigo mesmo, com os outros e com o mundo objetivo.
Quem está dormindo se isola como indivíduo. Quem está acordado vai pesquisar
além das aparências e pode alcançar o mais profundo da própria consciência, da
relação com os outros e a essência da lei única de todas as substâncias que
coordena o mundo. Esta opção entre estar dormindo ou acordado para o mundo é a
opção que pode levar o homem à esperteza ou à sabedoria, ela determina também
qual será o caráter do homem, que é o que vai definir o seu destino. A pesquisa
para Heráclito deve clarear e aprofundar o significado e também o seu
contrário. O que fundamenta e cria tudo não é uma unidade totalizante mas nela
coexistem e são necessários os contrários. Para entender o fundamento de tudo é
necessário juntar o completo e o incompleto. É a união dos opostos que vai
gerar a unidade da mesma forma que da unidade vão ser gerados os opostos. A
diferença entre os opostos constitui um significado essencial e racional da
própria diferença. Com essas teorias ele funda também a dialética. Heráclito
não percebe a unidade como harmonia, como sendo a síntese dos contrários, um
ponto onde as divergências das oposições se anulam.Éa unidade que permite a
existência dos contrários. A diferença é uma unidade porque é uma relação e a
relação só é possível entre contrários. Se as diferenças forem anuladas,
anula-se também a unidade. Deus também é identificado com essa relação entre os
contrários, entre os opostos, que apesar de mudarem constantemente continuam
existindo e tem a capacidade de conter em si a unidade.
Parmênides
de Eléia (530 - 460 a.C.)
Parmênides
é um filósofo que expôs seus pensamentos através da poesia em estilo homérico,
mas nem por isso deixa de usar rigorosos argumentos dedutivos em suas
colocações. Parmênides é o fundador da escola de Eléia e despertou grande
admiração de Platão. Dos seus poemas restaram-nos 154 versos e eles dividem-se
em três partes. A primeira é uma introdução onde ele coloca como chegou às suas
revelações. O filósofo conta a sua viagem imaginária pela morada da deusa da justiça
que o conduzirá ao coração da verdade. A deusa mostra a Parmênides o caminho da
opinião que conduz à aparência e ao engano e o caminho da verdade que conduz à
sabedoria do ser. Cada um desses caminhos será tratado nas duas partes
seguintes. Na segunda parte ele argumenta que o que é, é diferente do que
geralmente os homens supõem que seja. Nessa parte, intitulada Caminho ou Via da
Verdade (alétheia), ele coloca o que a razão nos diz e ele faz isso através da
metafísica dedutiva. Começa por premissas que ele acredita serem verdadeiras e
dedutivamente ele chega a conclusões que também devem ser verdadeiras. Seus
argumentos lógicos reconstruídos podem ser expressos da seguinte forma:
1 - Ou algo existe ou algo não existe.
2 - Se é possível pensar em algo, esse algo pode existir.
3 - Nada não pode existir.
4 - Se podemos pensar em algo esse algo não é nada.
5 - Se podemos pensar em algo esse algo tem quem ser alguma coisa.
6 - Se podemos pensar em algo esse algo tem que existir.
Na sequencia Parmênides expõe que somente nos resta dizer que esse algo é, pensar ou dizer que esse algo não é, é impossível. Esse algo que é tem, portanto obrigatoriamente que ser incriado e imperecível. Na terceira parte, intitulada Caminho ou Via da Opinião ou Erro (doxa), sobre a qual não podemos ter nenhuma certeza, ele faz uma descrição de como ele vê o mundo. Para ele essa sua descrição é falsa e enganosa pois é simplesmente o resultado de uma ordenação de palavras, mas essa ordenação é a melhor coisa que os homens podem fazer, sendo portanto a melhor descrição apresentada. Aqui ele expõe as crenças das pessoas simples. São conjuntos de teorias físicas como o dualismo entre o limitado e o ilimitado, que ele relaciona com a luz e as trevas, fazendo da realidade física uma mistura e uma luta entre esses dois elementos. É através dessa divisão que ele ordena as qualidades. Na comparação entre a luz e a escuridão, a escuridão é a negação da luz. Diferenciou as qualidades da natureza em positivas e negativas tomando por base outros opostos como vida e morte, fogo e terra, masculino e feminino, quente e frio, ativo e passivo, leve e pesado. Assim para ele nosso mundo se divide em duas esferas, as de qualidade positiva (luz, vida, fogo, masculino, quente, ativo, leve) e as de qualidade negativa (escuridão, morte, terra, feminino, frio, passivo, pesado). As qualidades negativas são uma negação das qualidades positivas e Parmênides utiliza os termos "não ser" para o negativo e "ser" para o positivo. Parmênides via as mudanças físicas que ocorrem no mundo como uma mistura onde participam o ser e o não-ser, resultando num vir-a-ser. A mistura é feita pelo desejo e quando o desejo é satisfeito o ser e o não-ser novamente se separam. O filósofo conclui assim que a mudança é uma ilusão. Somente existem o ser e o não-ser, o vir-a-ser é portanto uma ilusão dos nossos sentidos. A filosofia de Parmênides se apresenta como um contraste entre a verdade e a aparência. A aparência é percebida pelos sentidos que nos mostram o ser e o não ser e nos levam a diversos erros. Já a verdade somente pode ser buscada pela razão, que para Parmênides demonstra que não podemos pensar o não ser, pois não podemos pensar sem que esse pensar seja sobre algo. Pensar sobre nada é não pensar da mesma forma que dizer nada é não dizer. Somente podemos pensar e expressar o que pensamos através de um objeto e esse objeto já é algo, já é um ser. Ele conclui que o ser é e não pode não ser e através dessa ideia ele expressa sua principal tese filosófica que vai dirigir toda sua investigação racional. Ele cria assim os principais fundamentos da ontologia que é vista como metafísica pois o ser não é somente o ser da natureza, mas também o ser do homem e das suas ações, e mais ainda, é o ser de qualquer coisa que possa ser pensada.
1 - Ou algo existe ou algo não existe.
2 - Se é possível pensar em algo, esse algo pode existir.
3 - Nada não pode existir.
4 - Se podemos pensar em algo esse algo não é nada.
5 - Se podemos pensar em algo esse algo tem quem ser alguma coisa.
6 - Se podemos pensar em algo esse algo tem que existir.
Na sequencia Parmênides expõe que somente nos resta dizer que esse algo é, pensar ou dizer que esse algo não é, é impossível. Esse algo que é tem, portanto obrigatoriamente que ser incriado e imperecível. Na terceira parte, intitulada Caminho ou Via da Opinião ou Erro (doxa), sobre a qual não podemos ter nenhuma certeza, ele faz uma descrição de como ele vê o mundo. Para ele essa sua descrição é falsa e enganosa pois é simplesmente o resultado de uma ordenação de palavras, mas essa ordenação é a melhor coisa que os homens podem fazer, sendo portanto a melhor descrição apresentada. Aqui ele expõe as crenças das pessoas simples. São conjuntos de teorias físicas como o dualismo entre o limitado e o ilimitado, que ele relaciona com a luz e as trevas, fazendo da realidade física uma mistura e uma luta entre esses dois elementos. É através dessa divisão que ele ordena as qualidades. Na comparação entre a luz e a escuridão, a escuridão é a negação da luz. Diferenciou as qualidades da natureza em positivas e negativas tomando por base outros opostos como vida e morte, fogo e terra, masculino e feminino, quente e frio, ativo e passivo, leve e pesado. Assim para ele nosso mundo se divide em duas esferas, as de qualidade positiva (luz, vida, fogo, masculino, quente, ativo, leve) e as de qualidade negativa (escuridão, morte, terra, feminino, frio, passivo, pesado). As qualidades negativas são uma negação das qualidades positivas e Parmênides utiliza os termos "não ser" para o negativo e "ser" para o positivo. Parmênides via as mudanças físicas que ocorrem no mundo como uma mistura onde participam o ser e o não-ser, resultando num vir-a-ser. A mistura é feita pelo desejo e quando o desejo é satisfeito o ser e o não-ser novamente se separam. O filósofo conclui assim que a mudança é uma ilusão. Somente existem o ser e o não-ser, o vir-a-ser é portanto uma ilusão dos nossos sentidos. A filosofia de Parmênides se apresenta como um contraste entre a verdade e a aparência. A aparência é percebida pelos sentidos que nos mostram o ser e o não ser e nos levam a diversos erros. Já a verdade somente pode ser buscada pela razão, que para Parmênides demonstra que não podemos pensar o não ser, pois não podemos pensar sem que esse pensar seja sobre algo. Pensar sobre nada é não pensar da mesma forma que dizer nada é não dizer. Somente podemos pensar e expressar o que pensamos através de um objeto e esse objeto já é algo, já é um ser. Ele conclui que o ser é e não pode não ser e através dessa ideia ele expressa sua principal tese filosófica que vai dirigir toda sua investigação racional. Ele cria assim os principais fundamentos da ontologia que é vista como metafísica pois o ser não é somente o ser da natureza, mas também o ser do homem e das suas ações, e mais ainda, é o ser de qualquer coisa que possa ser pensada.
Anaxágoras
(500 - 428 a.C.)
Anaxágoras
concordava com a ideia de que o não ser não pode existir e que a substância do
ser é imutável. Para ele o nascer e o morrer não são acontecimentos reais. Nada
nasce ou morre, o que acontece é que as coisas que existem se decompõem e se
compõem novamente. As coisas que morrem estão se decompondo e as coisas que
nascem estão se compondo, se construindo. Para a filosofia de Anaxágoras as coisas que
existem vão além dos quatro elementos colocados por Empédocles. As quatro
raízes que formam as outras coisas, terra, ar, água e fogo não conseguem
explicar as diversas qualidades através das quais os fenômenos se manifestam.
Anaxágoras defende a ideia de que existem inúmeras sementes das quais vem todas
as coisas. O número de sementes que fundamentam e criam as coisas é do mesmo
número das coisas e elas são inumeráveis como inumeráveis são as manifestações
dos fenômenos no mundo. Essas sementes não são criadas - são eternas - e são
imutáveis, elas são de todas as formas, de todos os gostos e de todos os tipos.
Nenhuma dessas sementes de qualidades se transforma em outras sementes. As
sementes são também infinitas na quantidade. Elas não podem ser limitadas em
sua grandeza ou na sua pequenez. Elas podem ser divididas ao infinito sem nunca
deixar de ser pois o não ser não existe. Assim podemos dividir qualquer
semente, qualquer substância ao infinito sem que ela perca a sua qualidade. As
partes divididas das sementes terão sempre a mesma qualidade que tinham antes
de ser divididas. No começo todas as sementes estavam juntas e não eram
distintas uma das outras. O que separou as sementes foi a Inteligência que
através de um movimento ordenou o caos existente entre as substâncias. Dessa
forma todas as coisas são uma mistura ordenada das sementes e em todas as coisas
existem todas as sementes mesmo que em pequenas quantidades. O que vai definir
que uma coisa seja o que é vai ser a predominância de determinada semente ou de
outra. Em todas as coisas existem sementes de todas as outras coisas. No grão
de trigo existe a semente do cabelo, da carne e do osso, caso contrário como da
semente do grão de trigo poderia surgir o cabelo, a carne e o osso? Tudo sempre
esteve e sempre vai estar no ser. A Inteligência (ou Nous que também pode ser
traduzido por mente, pensamento ou espírito) que dividiu as sementes é divina,
ela é ilimitada, independente e não está misturada a nada. Essa Inteligência
divina é sutil, pura, tem pleno conhecimento de tudo e tem uma força imensa. A
Inteligência domina as coisas que tem vida. Ela deu o impulso inicial na
rotação que distribuiu ordenadamente todas as outras coisas. Nada se forma ou
se divide se não for através da Inteligência. Anaxágoras estudou também o
problema do conhecimento humano e desenvolveu sobre o conhecimento uma ideia
original. Ele divide o conhecimento em três estágios: 1 - a experiência e a
sensação; 2 - a memória e 3 - a técnica. A experiência é o tópico central para
o conhecimento humano, sem ela nenhum conhecimento seria possível. A
experiência é a nossa relação com o mundo e implica na nossa sensibilidade para
sentirmos as modificações dos objetos externos. O que nós vivenciarmos através
das sensações vai ser depositado na nossa memória que é a nossa capacidade de
conservar as experiências e os conhecimentos adquiridos. O acúmulo dos
conhecimentos em nossa memória vai gerar a sabedoria e a sabedoria vai gerar a
técnica que é a nossa capacidade de utilizar os conhecimentos para construir
objetos e modificar a natureza.
Fonte: MARCONATO, Arildo Luiz . Disponível em http://www.sofilosofia.com.br.
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