"Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém" Carta do Apóstolo Paulo aos Coríntios

"Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém [...]". (Carta do Apóstolo Paulo aos cristãos. Coríntios 6:12) Tudo posso, tudo quero, mas eu devo? Quero, mas não posso. Até posso, se burlar a regra; mas eu devo? Segundo o filósofo Mário Sérgio Cortella, ética é o conjunto de valores e princípios que [todos] usamos para definir as três grandes questões da vida, que são: QUERO, DEVO, POSSO. Tem coisas que eu quero, mas não posso. Tem coisas que eu posso, mas não devo. Tem coisas que eu devo, mas não quero. Cortella complementa "Quando temos paz de espírito? Temos paz de espírito quando aquilo que queremos é o que podemos e é o que devemos." (Cortella, 2009). Imagem Toscana, Itália.































terça-feira, 14 de agosto de 2012

A Teoria da Eugenia



Prof. José Roberto Goldim


Ao longo da história da humanidade, vários povos, tais como os gregos, celtas, fueginos (indigenas sul-americanos), eliminavam as pessoas deficientes, as mal-formadas ou as muito doentes.
O termo Eugenia foi criado por Francis Galton (1822-1911), que o definiu como:
    O estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja fisica ou mentalmente.
Galton publicou, em 1865, um livro "Hereditary Talent and Genius" onde defende a ideia de que a inteligência é predominantemente herdada e não fruto da ação ambiental. Parte destas conclusões ele obteve estudando 177 biografias, muitas de sua própria família.
Galton era parente de Charles Darwin (1809-1882). Erasmus Darwin era avô de ambos, porém com esposas diferentes, Darwin descendeu da primeira, por parte de pai, e Galton da segunda, por parte de mãe. Darwin havia publicado "A Origem das Espécies" em 1858.

No seu livro, Galton propunha que "as forças cegas da seleção natural, como agente propulsor do progresso, devem ser substituidas por uma seleção consciente e os homens devem usar todos os conhecimentos adquiridos pelo estudo e o processo da evolução nos tempos passados, a fim de promover o progresso físico e moral no futuro".

O argentino José Ingenieros publicou, em 1900, um texto, posteriormente divulgado como um livro, denominado "La simulación en la lucha por la vida". Neste texto incluem-se algumas considerações eugênicas, tais como:
    "Por acaso, os homens do futuro, educando seus sentimentos dentro de uma moral que reflita os verdadeiros interesses da espécie, possam tender até uma medicina superior, seletiva; o cálculo sereno desvanecería uma falsa educação sentimental, que contribui para a conservação dos degenerados, com sérios prejuízos para a espécie".
Em 1908, foi fundada a "Eugenics Society" em Londres, primeira organização a defender estas ideias de forma organizada e ostensiva. Um de seus líderes era Leonard Darwin (1850-1943), oitavo dos dez filhos de Charles Darwin. Ele era militar e engenheiro. Em vários países europeus (Alemanha, França, Dinamarca, Tchecoslováquia, Hungria, Áustria, Bélgica, Suiça e União Soviética, dentre outros) e americanos (Estados Unidos, Brasil, Argentina, Peru) proliferaram sociedades semelhantes.
 
Segundo Oliveira, a Sociedade Paulista de Eugenia, foi a primeira do Brasil, tendo sido fundada em 1918. Na edição de 1920, Ingenieros ressaltou, em nota de rodapé, que as suas opiniões haviam sido confirmadas pela rápida difusão das ideias eugenistas em diferentes partes do mundo.

O 1o. Congresso Brasileiro de Eugenismo foi realizado no Rio de Janeiro, em 1929. Um dos temas abordado era "O Problema Eugênico da Migração". O Boletim de Eugenismo propunha a exclusão de todas as imigrações não-brancas. Em março de 1931 foi criada a Comissão Central de Eugenismo, sendo o seu presidente Renato Kehl e o Prof. Belisário Pena um dos membros da diretoria. Os objetivos desta Comissão eram os seguintes:
  1. manter o interesse do estudo de questões eugenistas no país;
  2. difundir o ideal de regeneração física, psíquica e moral do homem;
  3. prestigiar e auxiliar as iniciativas científicas ou humanitárias de caráter eugenista que sejam dignas de consideração.
Em vários países foram propostas políticas de "higiene ou profilaxia social", com o intuito de impedir a procriação de pessoas portadoras de doenças tidas como hereditárias e até mesmo de eliminar os portadores de problemas físicos ou mentais incapacitantes.

Jiménez de Asúa defendeu a ideia de que as políticas alemã, italiana e espanhola nesta área não eram eugenistas, mas sim "racismo" oriundo do nacional-socialismo alemão. Vale lembrar que as ideias alemãs se originaram do trabalho do Conde de Gobineau - "Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas" - publicado em 1854. Antes, portanto, das ideias darwinistas terem sido divulgadas e do termo Eugenia ter sido criado. O Conde de Gobineau esteve no Brasil, onde coletou dados. Neste ensaio foi feita a proposta da superioridade da "raça ariana", posteriormente levada a extremo pelos teóricos do nazismo Günther e Rosenberg nos anos de 1920 a 1937. Outro autor alemão, Gauch, afirmava que havia menos diferenças anatômicas e histológicas entre o homem e os animais, do que as verificadas entre um nórdico (ariano) e as demais "raças". Isto acabou sendo objeto de legislação em 1935, através das " Leis de Nuremberg", que proibiam o casamento e o contato sexual de alemães com judeus, o casamento de pessoas com transtornos mentais, doenças contagiosas ou hereditárias. Para casar era preciso obter um certificado de saúde. Em 1933 já haviam sido publicadas as leis que propunham a esterilização de pessoas com problemas hereditários e a castração dos delinquentes sexuais.

Jiménez de Asúa propunha que a Eugenia deveria se ocupar de três grandes grupos de problemas: a obtenção de uma descendência saudável (profilaxia), a consecução de matrimônios eugênicos (realização) e a paternidade e maternidade consciente (perfeição).
  • A profilaxia seria obtida através de ações tais como: combate às doenças venéreas, prostituição e pela caracterização do delito de contágio venéreo.
  • A realização ocorreria através da casais eugênicos e do reconhecimento médico pré-matrimonial.
  • A perfeição proporia meios para que fosse possível a limitação da natalidade, os meios anticoncepcionais, a esterilização, o aborto e a eutanásia.
Com o desenvolvimento das modernas técnicas de diagnóstico genético, do debate sobre os temas do aborto, da eutanásia e da repercussão da epidemia de AIDS, muitas destas idéias são discutidas com base em pressupostos eugênicos, sem que este referencial seja explicitamente referido.
Jiménes de Asúa L. Libertad para amar y derecho a morir. Buenos Aires: Losada, 1942:25-45.
Ingenieros J. La simulación en la lucha por la vida. 12ed. Buenos Aires: Schenone, 1920:166.
Oliveira R. Étique et medicine au Bresil. Villeneuve DÁscq (France):Septentrion, 1997:90-95.

7 comentários:

  1. Podemos ver que, antigamente, o pensamento de superioridade sobre outros indivíduos era muito mais utilizado, sendo inclusive base para o nazismo. Pessoalmente, acho que todo o ser humano deve ter direitos iguais. O texto mostra todo o passado da eugenia e, portanto, contrasta grandemente com a minha ideia. Mas, ao mesmo tempo, vemos que a sociedade contemporânea realmente passa a ser mais homogênia em sua heterogenia, mesmo ainda apresentando problemas como o racismo e o preconceito.

    Crystal Pannunzio - 3º EM Colégio Ser! Sorocaba

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    1. Crystal, enquanto aceita a teoria da eugenia era tida como um paradigma a ser seguido, aberta e deliberadamente. Nos dias de hoje, visualizamos o preconceito, porém, de uma forma mais velada. Atrocidades ainda são cometidas, ao menos socialmente, como é o caso da exclusão. Há ainda discursos extremamente eugênicos quando se referem à migração interna brasileira nordeste-sudeste, esterelizando a mentalidade dos indivíduos que acabam por acreditar que ela é prejudicial ao desenvolvimento, a unidade e a coesão social.

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  2. Pode-se perceber que a antropologia em um momento inicial, com suas teorias eugenicas, foi utilizada como um poderoso instrumento para as politicas de dominação de regimes totalitários moldando justificativas para os excessos e equivocos cometidos na época atestando uma diferenciação entre culturas e etnias classificando-as como mais ou menos desenvolvidas, passando a erronia ideia de que as mais desenvolvidas teriam um dever "moral" civilizatório sobre as demais. Hoje por outro lado sabe-se que não se devem comparar culturas, assim mesmo não se apagam tão facilmente as marcas deixadas por um passado tão obscuro, seria leviano demais acreditar que nossos problemas neste sentido se mostram resolvidos ou ao menos proximo disso, nos dias atuais o preconceito e a diferenciação se mostram cada vez mais fortes e presentes mas de forma perversamente veladas.


    Leonardo R. da Silva; Giovanna Cavalcante 3° EM

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    1. A Antropologia, em seus primeiros passos, foi calcada em princípios etnocêntricos e utilizada exatamente para sustentar o status quo das elites europeias da época. Hoje, o preconceito e o racismo - velado - é ferramenta de dominação social, artifício eleitoreiro e justificativa para a exclusão social. A miséria e a pobreza não tem raça nem cor, não possui etnia.

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  3. João Francisco 3º EM14 de agosto de 2012 às 09:34

    Antigamente o pensamento de superioridade era muito mais comum e servia de base para diversas politicas de dominação como o Nazismo. E hoje temos também o preconceito para piorar a situação causando a exclusão de pessoas, como se alguma etnia fosse superior a outra o que é uma coisa inaceitável, é claro que temos pessoas com mais inteligencia que as outras, contudo não significa que as pessoas sejam superiores umas as outras

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  4. Lucas Dutra, Nicolas Oliveira14 de agosto de 2012 às 09:35

    Podemos perceber que o preconceito pelo diferente estava presente desde o passado porem no passado isso era algo mais nítido
    onde o diferente era tido como um ser inferior e com vários problemas. A eugenia em si é um exemplo de preconceito, pois todos somos iguais e ao selecionar um ser superior, estará desprezando o resto. Colegio Ser 3ºEM

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  5. É inacreditável que essas teorias preconceituosas e racista eram aceitas até tão pouco tempo atrás. A eugenia apenas acentuou o preconceito e a descriminação já existentes no Brasil pós fim da escravidão e até mesmo antes disso, não podemos esquecer de que a discriminação contra os nossos indígenas apenas se amenizou devido a intervenção da Igreja da época. É hipócrita se pensar nisso no brasil, um país com uma diversidade cultural e étnica. Só lamento o ser humano que se julga tão racional e superior, ter tido teorias e pensadores como essas.

    Sílvia M. Lopes Conceição 3° Em Colégio Ser!

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